sábado, 4 de setembro de 2010

O “fut-fut” venenoso do nosso perímetro urbano

O uso de substâncias secantes no inço verde da agricultura, assim como no perímetro urbano, tal como nas pedras do calçamento das ruas e terrenos, é algo corriqueiro para as pessoas menos avisadas dos malefícios que estão causando a si mesmas, bem como aos outros que não tem nada a ver com esse tipo de aplicação de pesticida.
É o popular “fut-fut” das máquinas de vaporização, prática comum nas lavouras e, agora nas cidades para acabar com o verde e as ervas, chamadas de “daninhas”!
A origem destes secantes está na guerra do Vietnam e no uso do Agente Laranja, um desfolhante para acabar com as folhas das árvores e possibilitar a visão dos guerrilheiros escondidos na mata, permitindo assim serem metralhados e mortos pelos aviões de combate que sobrevoarem o local.
O resultado de tal prática foi os Estados Unidos perderem a guerra para os vietcongs em 1975 e saírem corridos de lá, acabando com isso a discórdia e tornando viável a unificação do Vietnam do Norte con o Vietnam do Sul. Entretanto, milhares de vidas foram ceifadas pela guerra e, centenas de pessoas convivem com os efeitos danosos do uso destes secantes pesticidas!
Particularmente, eu (JWG), morando na altura da Rua Padre Nóbrega, 245, na cidade de Roque Gonzales, tenho um vizinho que faz vaporização frequente nas plantas que estão encostadas na cerca de separação dos terrenos, mesmo com o alerta de que está utilizando veneno, mesmo que esse seja “permitido”, não para com esse hábito danoso!
A sensação de estar praticando um ato delituoso, leva o dito cujo, a espalhar veneno inclusive aos domingos, como no dia 29/08/10, por volta das 13h!
Entretanto, o secante espalhado pelas ruas de paralelepípedos e terrenos, deverá ser proibido, pois com o fechamento das comportas da Usina Passo São João, a água será represada e aí, com o uso dos venenos que irão parar no lago, levados pelas chuvas, teremos um local de águas pútridas e mortas!
O lago da barragem por si só deverá ser uma fonte de mau cheiro, devido ao represamento das águas do Rio Ijuí, que trarão a poluição e a bosta de cidades como Santo Ângelo, Cerro Largo e etc. (JWG).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A mesma praça, outros bancos e jardim...

Por João Weber Griebeler
Ouvi pela primeira vez, de modo marcante, a cantora paraguaia Perla, em janeiro do distante ano de 1975, numa apresentação do circo ROSSMARC, naquela noite em que o Teixeirinha e a Mary Terezinha estiveram pela única vez em Roque Gonzales, para se ver o tamanho da promoção. As ruas próximas se encontravam estavam tomadas de automóveis Aero Willys, Fuscas, Rural, Fords da década de 40, 50 (o Corcel era novidade)!....
O circo estava armado na Praça Tiradentes, que havia sido aplainada há pouco tempo, deixando de ser campo de futebol, para virar praça.
Pois nessa noite histórica em que vi o Teixeirinha, me fixei mais na Perla, por causa da inebriante música ESTRADA DO SOL, que servia de movimentação para a bela contorcionista de biquíni vermelho se exibir. Tinha um espectador ao meu lado na arquibancada que ficava de pé, se espichando para “bombear” por mais “detalhes” da bailarina!
Alguém se lembra de alguns acampamentos de ciganos que também por ali estiveram? Recordando daquele longevo período, uma cigana que veio ler a sorte em nossa casa, ficou espantada com os “trabalhos”, aprontados pelo reino das trevas para cima da família Weber/Griebeler!
Depois desta rápida consulta, até então a preço módico, houve uma demorada, envolvente e convincente conversa e, assim, numa fria e embarrada noite de garoa, (não havia calçamento na maioria das ruas!), meu pai se esgueirou para debaixo das lonas da cartomante no acampamento cigano na Praça Tiradentes, voltando mais tarde desanimado: o preço que haviam apresentado para “desmanchar” as maquinações era muito elevado!

Asas para voar

Desde os primórdios da humanidade, pensamos em nos elevar aos ares, como os pássaros. Mesmo que a teoria do evolucionismo tenha baixado a gente das árvores para rastejar pelo solo!
De minha parte, tenho admiração pelas aves e, deve ser pelo desmatamento que está ocorrendo nos minguados capões de mato que ainda existiam, ocasionado pela construção da Usina Passo São João, apareceram na última primavera, e agora se repete, a vinda em nosso pátio de três pássaros, parecidos com um sabiá mais delgado (na foto o sabiá), negros retintos e lustrosos. Também nesse período, andaram aterrissando na quirera que espalhamos para eles, uma família de uns dez pelinchos (nome só usado no RS, em outras plagas, é anu-branco, alma de gato, rabo de palha, etc). De quando em quando, lá pelas três horas da madrugada, se ouve um piar lamentoso… deve ser o urutau que vaga, procurando pouso num galho não mais existente!
Também alguma coruja se pronuncia. Dizem que antigamente, era meio lúgubre caminhar pelo interior, onde em cada moirão de cerca, se ouvia elas a piar em sinfonia!
Conjuntura deste poeta e escriba, inspirado pelas madrugadas, descrevendo o que motiva algumas das poesias!

Roque Gonzales e o Turismo

Por João Weber Griebeler
Em Roque Gonzales está acontecendo uma transformação significativa, com a diminuição do setor rural, devido em partes a perda de áreas agricultáveis para a barragem da Usina Passo São João e, também, devido ao envelhecimento da população que estava radicada na agricultura, a qual, ao obter a sua aposentadoria, passa a acalentar o sonho de melhorar de vida, residindo na cidade.
Todos, enfim, atingidos pela barragem e ex-agricultores já na terceira idade, passam a integrar o meio urbano, necessitando, portanto, a cidade a ter de oferecer outras oportunidades de empregos e negócios para sua população e, sem dúvida, uma dessas possibilidades é mudar a força da matriz produtiva, inovando em outros pólos de negócios e formas de se qualificar produtos e ganhar renda.
Uma dessas opções é a considerada “indústria sem chaminés”: o turismo e, Roque Gonzales, está passando por uma oportunidade única na história regional com a construção da Usina Passo São João.
Vamos ter, enfim, atrativos capazes de motivar visitantes a virem de outras cidades para Roque Gonzales, seja para conhecerem a primeira estação geradora de energia do governo federal na retomada da Eletrosul, no próximo ano de 2010, seja para conhecerem o lago da barragem e o atrativo de um balneário sustentável, equipado com atrativos únicos na região para o esporte aquático e o lazer, sem contar outras atrações que, já temos, bastando olhar ao nosso redor e elencar alguns destes locais.
Este é o objetivo de uma série de matérias que o Jornal Igaçaba vai procurar proporcionar aos seus leitores!
Destes locais a merecer destaque, um dos cartões postais mais visitados, filmado e fotografado pelos visitantes é a Igreja Matriz da Paróquia São Roque Gonzales, com a pedra fundamental da edificação tendo sido lançada no dia 14/05/1950, nos tempos em que pertencíamos à Paróquia de Pirapó, sob o comando do Padre Francisco Rieger, com Bruno Heinzmmann sendo o construtor responsável pela obra
Entre a construção da igreja nos anos 1950 e a época atual, houve sensíveis modificações na Igreja Católica, principalmente devido ao 2o Concílio Vaticano, como o costume de celebrar a missa em latim e o pároco rezar de costas para os fiéis.
O melhor exemplo está na arquitetura, com a igreja de Roque Gonzales sendo uma das últimas construídas no estilo medieval nas Missões, neo-gótico (dos quais, uma das referências é a Igreja Votiva, em Viena (Áustria), denominado de ARQUITETURA REVIVALISTA, com raízes na Inglaterra do século 18 e grande influência na Europa e Américas, como a Catedral de São Paulo com suas duas torres.
Um detalhe a observar é que esta não é a primeira igreja católica matriz de Roque Gonzales. A antiga igreja era apenas uma capela, dedicada a São Pedro Canísio, que fazia também de local de escola, a Escola Roque Gonzales, com o sino ficando num campanário ao lado e, estava localizada onde hoje é a primeira sala do Centro Catequético. Aliás, este foi construído com os tijolos e todo o material da antiga igreja, demolida no dia 03/01/1955..
O 1o documento de uma associação de cidadãos roque-gonzalenses foi a ata de fundação da igreja, da escola e do cemitério, em 06/01/1928 (até pouco tempo, o dia 06 de janeiro costumava ser feriado, devido ser o DIA DE REIS, tanto que a data de fundação do Olaria FC, em 1966, também foi nesse dia, por ser um dia santo de se guardar!).
Mesmo tendo uma nova e ambiciosa estrutura, a nova igreja permaneceu capela até o dia 14/04/1963, quando passou a ser paróquia e o 1o pároco foi Monsenhor Luiz Kreutz, nomeado em 23/06/1963.
Uma visitação aos locais religiosos de Roque Gonzales deve incluir a Casa Canônica, ao lado da igreja, que é outra significativa construção da arquitetura religiosa, iniciada em 25/11/1962, sob a determinação do Padre Fridolino Binsfeld, muito empreendedor e construtor!

Colorindo a Luz do Senhor - Os vitrais coloridos que ornamentam as janelas tem toda uma simbologia, sendo os dez principais com o tema da Via Sacra e quatro menores (do Altar).
Está se pensando numa restauração destes vitrais, obra demorada e que demandará cerca de um ano de trabalho, com um custo aproximado de R$ 17 mil, conforme avaliação de empresa restauradora da cidade de Canoas.

Histórico - As comunidades reunidas em capelas formam as paróquias e, estas, as dioceses e, seu número e constituição no decorrer dos anos, é uma história própria, com opções e desistências. Assim, do que viria a ser o futuro município de Roque Gonzales, a primeira comunidade a constar na formação de uma paróquia é a da Barra do Ijúi, formando em 1932 a Paróquia São José, de Pirapó.
A Paróquia Sagrada Família de Nazaré, de Serro Azul (Cerro Largo), criada em 1919, rezava, em ata constante do livro da Diocese Missioneira de Santo Ângelo, que vinha “fazendo divisa com o Rio Ijuí” acompanhado a seguir “a sombra do mato até a Linha Dona Helena”. Ou seja, até a Esquina Fátima e passando pela Vila Dona Otília.
A criação solene da comunidade de Roque Gonzales foi em 27/01/1927, em missa celebrada pelo Monsenhor Estanislau Wolski, quando integrávamos a Paróquia São Luiz Gonzaga, criada em 08/01/1859, em decreto da Assembléia Legislativa e o Governo Imperial!
A nossa Paróquia São Roque Gonzales foi formada pelo Bispo Dom Aloisio Lorscheider, desmembrando as comunidades da paróquia de Pirapó (Roque Gonzales, Colônia Laranjeira, Nova Flórida e Rincão São João), da paróquia de São Luzi Gonzaga (Afonso Rodrigues); de Cerro Largo (Esquina Fátima e Santa Teresinha) e de São Paulo das Missões (Linha Sobrado).
Todos pertenciam à Diocese de Uruguaiana, até a criação da Diocese Angelopolitana, criada em 22/05/1961 e instalada em 12/06/1962.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nossas Raízes Jesuitícas

O dia primeiro de setembro, além da abertura da Semana da Pátria em todo o país, teve o desenrolar de uma exigente agenda de turismo histórico em Roque Gonzales, atividade esta que havia sido acertada há mais de um mês com Sergio Venturini, Consultor Externo em História, pelo Sebrae/Rota Missões.
Partindo da cidade de Roque Gonzales pela B-392 no início da manhã, no carro do Venturini, ao chegar nas proximidades do Santuário de Assunção do Ijuí ingressamos na excelente estrada de chão, mantida pela Administração Municipal de Roque Gonzales.
Linha Saltinho, Rincão do Meio e Rincão Vermelho, onde chegamos rodando sobre o caprichado calçamento, recém concluído, no início do perímetro urbano do Distrito. O ponto de chegada foi na Sub-Prefeitura municipal. A seguir o encontro com os guias turísticos desta incursão: professores Isabel Marasca e Egídio Szinvelski, profundos conhecedores da história local.
As estradas vicinais, entre as divisas dos municípios de Roque Gonzales e Porto Xavier se cruzam de forma constante. Ora se está num, ora noutro município, reflexos da mutilação do antigo Distrito de Porto Xavier na década de 1960, quando se constituiu, algo atabalhoadamente, as áreas emancipandas, para conquistar determinados colégios eleitorais.
Uma das características de quem trafega nesta região fronteiriça neste período, é encontrar veículos abarrotados de cana de açúcar, pessoas trabalhando no corte da safra, depois da queima da palha. Roque Gonzales é um dos principais municípios produtores da cana no estado do Rio Grande do Sul. Os alambiques estão retornando, quem sabe, brevemente, a boa cachaça rinconense não estará participando de feiras nacionais, como a próxima Expo-cachaça, a realizar-se em São Paulo, de 16 a 19 de setembro?
Em ritmo acelerado, visitamos o Serro Pelado, já no município de Porto Xavier, onde se vislumbra uma visão panorâmica da região inteira, de Porto Lucena a Concepción da la Sierra, na Argentina, passando pela indústria canavieira da Coopercana em (Porto) Xavier, o rio Uruguai prateado e vários povoados castelhanos. A rapidez da escalada fez com que este escriba repentinamente metido em turismo de aventuras, encontrasse na vegetação da colina um cipó “unha de gato”, que por pouco não lacera o olho direito, ferindo apenas a pestana!
Baixando o Serro Pelado, nos dirigimos até a Linha Itaquararé, na Costa do Uruguai, mais precisamente ao local que, segundo tudo consta (Teschauer, 1918), teria sido palco da primeira travessia do rio Uruguai pelo Pe. Roque Gonzales, em 1619, permanecendo a comitiva desbravadora jesuítica ali por pouco tempo, devido a região estar ocupada por índios guarani hostis a sua presença.
Em épocas de estiagem, o volume d’água do rio Uruguai baixa sensivelmente, tornando possível a travessia em determinadas pedras mais salientes do leito do rio. Guarda-se na memória popular uma antológica travessia de caminhão pelo rio Uruguai, na grande seca de 1943, no mesmo local que estamos aventando como ser do primeiro ingresso do Pe. Roque em terras rio-grandenses.
Isso faz sentido porque a data provável da travessia do Pe. Roque, em 1619, foi no período abrangido pelos meses de outubro a novembro, propícios a estiagem em nossa região missioneira.
Esta região se tornou efetivamente o centro de irradiação da colonização jesuítica, capitaneada pelo Pe. Roque, visto que Concepción de la Sierra, base do ingresso para São Nicolau e a 1 missa oficial em 1626, dista apenas cerca de 18 quilômetros de Itaquararé, sendo que a primeira tentativa de travessia do rio Uruguai, obviamente, teria que ser no lugar mais próximo. O Pe. Roque não ficou sete anos cochilando e olhando o rio passar. Houve tentativas de ingresso e isso está bem documentado.
No local, também está sendo prevista a construção da Usina Hidrelétrica Garabi 2, para atenuar a altura da Garabi 1, pois se for mantida a projetada construção da usina de Garruchos, em discussão há mais de 30 anos (!), será um desastre ecológico regional, devido ao impacto ambiental do alagamento proporcionado pela barragem.
A seguir, fomos até o Cemitério dos Evangélicos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que abriga um dos mais antigos cemitérios da colonização de origem alemã na região, construído nos idos de 1910.
Enfim, nos dirigimos a Barra do Ijuí, que fica a apenas 13 km de Concepcion de la Sierra, onde o Pe. Roque, após concluir a catequese na redução de São Nicolau, garantiu a travessia por barco pelo rio Ijuí, que ali tem o encontro de suas águas com o rio Uruguai, até Assunção do Ijuí (1628) e o Salto Pirapó.
Este rápido percurso, in loco, garantiu um imenso descortinar de horizontes em relação aos itinerários empreendidos pelo Padre Roque Gonzales na catequese indígena.
Um contato epidérmico com as dificuldades do terreno, permite compreender o grande caracter empreendedor do Pe. Roque.
Falta apurar o dia exato desta travessia pelo rio Uruguai até a Linha Itaquararé em 1619, fato que, adiantaria o prazo para o início das comemorações dos 400 anos das Missões, proposto pelo Sergio Venturini no início da formatação da Trilha dos Santos Mártires.
Uma das propostas a serem formuladas, desde já, para fato histórico desta magnitude, refere-se a construção, no Distrito do Rincão Vermelho, de um Memorial da Colonização Jesuítica e o Pe. Roque, pelos 400 anos das Missões do RS, em terras protegidas de ameaças de inundação, em parceria com os três países com legado missioneiro: Argentina, Brasil e Paraguai. Com verbas, obviamente, dos ministérios da Cultura e do Turismo.
O Rincão Vermelho tem um grande potencial turístico, que não é apenas o Festival do Barco e Pesca, durante uma semana por ano, no mês de fevereiro. Há que se arrumar atividades para as outras 51 semanas do ano. O legado de muitas histórias épicas, ligadas à proximidade com a Argentina, as escaramuças de fronteira, tiroteios, mortes, contrabando de farinha, gasolina e pneus, o mitológico “Hotel dos Contrabandistas”, etc., tornam o Distrito um local ideal para formatar um roteiro de visitação turística, vindo pelos rios Ijuí e Uruguai, retornando por terra.
Qualquer projeto de atividade turística regional, deve, necessariamente, incluir esta região limítrofe com a Argentina e com o Paraguai bem próximo, onde o município de Porto Xavier, com seu porto internacional é o segundo no RS em circulação de mercadorias, sendo o portão de entrada oficial dos países do Mercosul nas Missões. (JWG).

Conhecendo nosso chão

Turismo Histórico, Cultural e Religioso

Vou chamar Tupã pra ouvir minha voz guarani / Tupã deus da campina, rei da tribo onde nasci / Tupã, vêm me ouvir...
Música Feitiço Índio - Os Muuripás (L. C. Barbosa Lessa), 1985.

Se alguém estiver na França, país europeu, rico e com grande movimentação turística, e de repente sentir fome, deverá fazer a solicitação em francês, sob pena de ficar em permanente jejum. Na Alemanha, uma questão de honra é não “inglesar” o “W”, que se pronuncia “vê” e jamais “dáblio”. Por quê isso? Porque eles preservam sua identidade cultural, através do idioma!
O tango é uma criação do rio da Prata, surgindo inicialmente nos anos de 1850-60 nos bairros pobres de Montserrat e San Telmo, em Buenos Aires, onde os bailes eram chamados de “tangos” e “tambos”, originando-se de uma mistura de ritmos onde inclusive figura a milonga. Duas das maiores expressões do tango foram Alfredo Le Pera, brasileiro e Carlos Gardel, francês, que formaram a maior dupla de “tangueros”. El dia que me quieras, Mi Buenos Aires querido...
A música é um encanto que une povos diferentes, na harmonia do som, na magia dos versos. Foi esta a primeira lição ministrada pelo padre Roque Gonzales de Santa Cruz ao vir para o Rio Grande do Sul, atravessando o rio Uruguai em canoa e encantando os índios guaranis com a melodia em seus primeiros contatos com o pioneiro colonizador de nossa terra vermelha.
A recuperação desta nossa história ancestral, valorizando seus primeiros moradores indígenas, é um objetivo que a Igaçaba vem cumprindo desde sua primeira manifestação. Não existem filhos sem pais. Por vezes, podemos esquecer de dizer que estamos aqui por que Tupã fecundou a terra vermelha...
Depois do idioma português, o tupi-guarani é a língua que mais nomeia lugares no Brasil. Apesar de não se aprender nas escolas, cerca de três mil palavras do tupi-guarani estão presentes no cotidiano do vocabulário brasileiro e, mais eruditamente, elas chegam às dez mil palavras.
Nhenhenhém (falar), a bibóca (casa de barro), cutucar a pereva (mexer na ferida), pirajú - peixe dourado, Inhacurutum - arroio da coruja, rio Uruguai - rio do caracol (uruguá-caracol;y-água), Pirapó - onde o peixe salta ((pira-peixe;pora-cheio, saltar), rio Ijuí - rio da rã (y-água;ju’í-rã), são alguns dos nomes que utilizamos diariamente. A própria palavra guarani (Guarã í) é um vocábulo etnográfico que designava um povo (nação), cujo território ia da região do pampa argentino aos vales do Mississipi nos Estados Unidos.
Em nossa região, para manter preservadas suas seculares raízes indígenas e missioneiras, o turismo deve ser feito por quem tem as Missões no Coração, e por quem é o Coração das Missões. Quando se menciona a Rota Missões, deve-se prestar tributo a um paraguaio que já fazia a integração de nuestra latinoamerica a 374 anos atrás, falando a mensagem divina na língua da terra, o idioma guarani.
Para se compreender a importância da conquista e evangelização do indígena da América do Sul, deve-se pesquisar e descobrir que pregar o catecismo católico na língua nativa, tal como fizeram os missionários em 1500 com os idiomas guarani, aimará e quécha, somente foi estendido à população branca do mundo todo após o Concílio Vaticano II, quase cinco séculos após...
Em face do internacionalismo representado pelo turismo, que é, junto com a telefonia e a informática, um dos três agentes mundiais da globalização, entendemos que uma proposta de turismo no século 21, não pode ficar restrita a poucos municípios, ela tem que envolver regiões inteiras em pacotes turísticos com identidades afins, tem que ser feita por quem fala a nossa língua, e por quem conhece a nossa história e cultura missioneira!
Estamos, com este manifesto, lançando o projeto da Igaçaba Turismo, uma agência de turismo, para divulgar o que temos de atração, para incrementar um turismo receptivo, que traga visitantes de outras regiões, para ampliarmos nossos laços com o mundo. Este o nosso objetivo, para o qual procuramos parceiros e empreendedores, dispostos a acreditar em Roque Gonzales e no nosso potencial regional. (JWG).

Roque Gonzales

Terra e Sangue das Missões*
Os trabalhos para demarcar as terras do que seria a futura cidade de Roque Gonzales, o Salto Pirapó e seus arredores, remontam ao ano de 1919, com a vinda do agrimensor Carlos Beppler.
Em 03/11/1922, é nomeado em São Luiz Gonzaga, pela prefeitura municipal, o Major Antônio Thedoro Cardoso para fazer a divulgação e vender lotes de terras da nova Colônia Municipal.
Em 1924, começava a vinda de moradores para a Colônia Salto Pirapó (o nome Pirapó significa: lugar de peixe, ou peixe que salta, no idioma guarani mbya, os antigos habitantes da região das Missões), que assim se chamava em virtude de uma notável queda d’água n rio Ijuíl, que formava cachoeiras, ideais para o funcionamento das turbinas de uma usina hidrelétrica, e que viria a ser o grande atrativo para a colonização. Ou seja, a construção da usina, iniciada em 1928.
Os primeiros colonizadores oficiais foram o Major Antônio Thedoro Cardoso e Júlio Schwengber Sobrinho, os quais passaram a trazer pessoas e a desenvolver uma terra fértil e rica em belezas naturais. A grande maioria dos imigrantes era descendente de alemães.
A primeira missa, foi celebrada por Monsenhor Wolski, onde hoje é a Praça Tiradentes, com a data de fundação do novo povoado sendo em 27/01/1927.
Roque Gonzales virou assim o 9o Distrito de São Luiz Gonzaga, sendo instalado em 25/10/1927 e se transformando em Vila na data de 31/03/1938.
No ano de 1954, Cerro Largo consegue sua emancipação e Roque Gonzales passa a ser o 2o Distrito daquele novo município.
Já no dia 08/08/1964, ocorre a primeira formação da Comissão Emancipacionista de Roque Gonzales, que é reformulada e concluída na data de 19/08/1964.
Para conseguir cumprir com as exigências da legislação vigente, foram incluídas as comunidades de Rincão Vermelho, que tivera seu início por volta do ano de 1896 e Vila Dona Otília, fundada em 1908.
O plebiscito foi realizado no dia 17/10/1965, tendo comparecido 1.443 eleitores, com o “sim” obtendo 73,8% dos votos.
No dia 07 de dezembro de 1965, portanto, o distrito de Roque Gonzales, juntamente com o apoio das comunidades de Rincão Vermelho e Vila Dona Otília, teve homologado sua emancipação político-administrativa, pela Lei 5.134.
Nascia o município chamado Roque Gonzales. O nome foi em homenagem ao jesuíta Roque Gonzales, o qual fora beatificado no ano de 1934, pelo Papa Pio XI.
O município foi instalado em 15 de maio de 1966.
O primeiro prefeito foi um interventor federal, administrando sem a existência de Câmara de Vereadores, acontecendo a primeira eleição para o legislativo e executivos municipais no ano de 1968.
Entretanto, na data de 22/07/1971, o município foi considerado Área de Segurança Nacional, por fazer parte da fronteira do país com a Argentina, sendo suprimida a eleição para prefeito que passou novamente a ser nomeado (mantendo-se a eleição popular dos vereadores) e só retornando a escolha do mandatário municipal através do voto popular no dia 15/11/1985.

NO PRINCIPIO - O Padre Roque Gonzales, que chegara ao Rio Grande do Sul através de São Nicolau, em 03/05/1626, fundou a Redução de Assunção do Ijuí, em 15/08/1628, celebrando ali a primeira Missa entre índios guarani mbya, nas futuras terras do município de Roque Gonzales.
Mais tarde, o Pe. Roque e o Pe. Afonso Rodrigues foram martirizados em Caaró, na data de 15/11/1628, por índios mandados pelo Cacique Nheçu, o qual habitava nas cercanias do Cerro do Inhacurutum, proximidades de Assunção do Ijuí, local em que também padeceu martírio o Pe. João de Castilho, em 17/11/1628.
Os três foram considerados pela Igreja Católica em Assunção do Paraguai, pelo Papa João Paulo II, no ano de 1988.
CASCATINHA - Os primeiros colonizadores ao chegarem nas proximidades do que seria o futuro povoado de Roque Gonzales, escolheram um lugar de parada, um local que tivesse água.
Como esse recanto todo ainda era mato, e os povoados do que seriam os futuros municípios ao redor já estavam formados, Roque Gonzales foi um dos últimos a serem constituídos, há mais de 80 anos, sendo escolhido este local com água para beber, para lavar roupas, para tomar banho: a Cascatinha.
Com nascentes no Bairro São José, o arroio faz sua trajetória, cruzando canalizado o acesso asfáltico da principal entrada e saída da cidade de Roque Gonzales, a Avenida Pirapó/ Rua João Del Castilho, indo formar a queda d’água da Cascatinha, na propriedade de Soni Kreuz. Até aí o arroio continua anônimo, sem nome e, mais adiante, ao tomar ares urbanos deságua no Lageado Delfino, indo até o rio Ijuí.
Historicamente, a Cascatinha é reconhecida como o primeiro contato dos colonizadores com a cidade de Roque Gonzales, sendo que em 1968, foi escolhido o nome do Centro de Tradições Gaúchas como CTG Sentinelas da Cascata, em homenagem ao local.

* O dístico “Terra e sangue das Missões”, é de autoria do escritor Nelson Hoffmann e foi tornado um dos emblemas oficiais do município pela Lei 805.

Por João Weber Griebeler – Jornal Igaçaba
(Também com informações dos livros:
a) Município de Roque Gonzales, Pedro Marque dos Santos, 1989;
b) A fascinante história de Roque Gonzales, Ângelo Felipe Ramos, 2001).

História e Lendas do Salto Pirapó

Por: João Weber Griebeler

Prosseguindo a série de matérias referentes a história do Salto Pirapó, recordadas pelo Sr. Aldino Spohr e outros moradores, hoje enfocaremos os fatos mais pitorescos e, aqueles mais marcantes para o imaginário popular, como as lendas que se formaram ao longo das gerações.
Começando do princípio, o primitivo Passo São João, o primeiro a existir, ficava a cerca de 150m por onde passará o canal da futura Usina, desembocando no Rio Ijuí. O Passo São João só adquire esta denominação a partir de sua localização definitiva, lá por 1970.
A história que existia da colonização do Salto Pirapó era restrita, de repente os primeiros moradores caíam do céu, por mirabolante obra do Altíssimo!
Na verdade, o Salto Pirapó já era conhecido e freqüentado muito antes que por aqui chegaram José Eichelberger e Jacob Alberto Spohr, a partir de 1924.
Bem antes disso, lenhadores e balseiros se locupletavam no abate das árvores nativas, tais como loro, cedro e cabriúva, ou seja, madeira de pouco peso, ideal para flutuar nas águas do Rio Ijuí.
As toras eram tombadas ribanceira abaixo, na direção de onde se localizava o primitivo passo, durante os meses de verão, para, nos meses de inverno, quando vinham as cheias do rio, serem trans-portadas para a maior cidade regional, a cidade de Uruguaiana, a qual perten-cíamos inclusive pela Diocese da Igreja Católica.
Estas lembranças foram repassadas para Aldino Spohr por certo Juca Modesto, que viveu naquela época antiga.
Os balseiros amontoavam as toras na barranca do Rio Ijuí, aguardando a época das cheias, no período de inverno, quando colocavam as mesmas na água, formando assim barcos rudimentares, que eram montados como pequenas balsas, reforçando sua navegabilidade por meio de taquaras amarradas com cipó aos troncos, construindo-se também toscas estruturas de capim a moda de habitações, para navegar protegidos das intempéries pelo rio. Navegava-se com a força da correnteza e a noite. Em épocas de chuva, encostava-se na margem para descansar de forma sossegada.
Tal meio de transporte das toras, demorava semanas e a volta, era feita a pé, trazendo-se a cavalo apenas os apetrechos mais necessários. Demorava-se cerca de um mês inteiro para fazer tal percurso e, obviamente, então as horas e os dias não contavam como hoje, pois se vivia mais lentamente.
O agrimensor oficial da demarcação de toda essa região foi Carlos Beppler, que era o chefe da equipe que se abrigava num galpão, a cerca de cem metros da cachoeira do Salto Pirapó. Este local acabou sendo a primeira moradia de Jose Frederico Eichelberger, o José Teimoso, quando aqui veio residir com a família, em 1924, sendo capataz de Julio Schwengbenger.
Cruzes - Havia também um pequeno cemitério, bem anterior à colonização do Salto, provavelmente datando de princípios do século 20, ou antes, ainda. Esta presença era atestada pela presença de duas cruzinhas de ferro, evidenciando ser um campo santo cristão.
Esta localização das cruzes acabou se tornando dificultosa devido a uma patrolagem por máquinas da prefeitura na área próxima ao rio, para a construção de um camping, lá por 1986. Tal local fica um pouco acima das comportas da velha usina, logo após se cruzar a cerca de arame farpado.
O burro branco - Por outro lado, onde tem cemitério, tem “enterros”, não de mortos, mas de tesouros, que soam fabu-losos nas cobiçosas imagi-nações das pessoas.
Uma das lendas mais antigas circulantes acerca deste tema, conta da existência de um tesouro, muito rico, escondido, tendo para zelar por sua proteção um burro branco, macho de estatura avantajada, de olhos fosforescentes e orelhas de meio metro de tamanho!
A descrição nos soa fantástica, porque, cerca de 90% dos filhotes nasci-dos da família dos jumentos são de mulas fêmeas, mais os olhos fosforescentes, as orelhas de meio metro e um considerável tamanho físico, levam a supor que tal bicho é do outro mundo!...
Um ser tão extraordinário assim certamente teria uma nobre missão a cumprir - ser o guardião e zelar pela guarda da caixa metálica -, escondida numa depressão mais profunda das águas do Rio Ijuí.
Esta caixa seria repleta de moedas e objetos de ouro dos tempos da riquíssima colonização espanhola e teria vindo parar por aqui em canoa, contrabandeada de um dos grandes centros urbanos da época, as cidades de Buenos Aires ou Assunção do Paraguai.
Para fins de ilustração, recordamos a lenda do Senhor do Sobrado, levantada por Sergio Venturini, sobre um nobre europeu abastado, refugiado nas cercanias da Linha Sobrado, daí o nome desta localidade ser tão original dentre as diversas denominações da região.
Lagoa - Também há especulações sobre a existência de uma lagoa, que poderia ser a depositária desta relíquia, localizada do outro lado do rio, em Dezesseis de Novembro. Até já se pensou em esvaziar a referida lagoa para ver seu interior!
Na década de 1970, ocorreu inclusive que um cidadão mais ilustrado e de forma veemente, oriundo de município próximo, ter vindo procurar o tal tesouro, com base em dados, mapa e informações coerentes. Se teria encontrado algo, quem o saberá?
O Sr. Aldino Spohr recorda que antes tempos, era comum se encontrar vestígios de escavações realizadas durante a noite por visitantes furtivos nas terras do Salto Pirapó, a procura destes tesouros. Em particular, esta remoção de pedras se dava acompanhando a depressão que vai formar o caimento e canal por onde descerá o Rio Ijuí para movimentar as turbinas da Usina Passo São João.
Diversas pessoas, os tais “procuradores de ouro” saiam de casa ao entardecer, munidos de um aparelho Mineoro, só retornando no outro dia, cansadas e sujas de terra pelas escavações realizadas na febril noitada.
Há toda uma sigilosa articulação destes buscadores, formando quase uma confraria. Alguém tem que de ser de muita confiança para gozar de um convite para uma caçada noturna de tesouros!
Pois o mito de existir tesouros no Salto Pirapó se recicla e vai despertando outros sonhadores. Comentários dão conta que existe uma área tabu para os trabalhadores da Construtora CVP. Provavelmente aonde se localizam vestígios indígenas, colocados sob proteção pelas arqueó-logas. Mas vai dizer para alguém que num lugar não se pode mexer! Com certeza ali tem ouro, e muito!
Nos próximos anos, ainda veremos excursões varando madrugadas frias e enluaradas, em direção ao Salto Pirapó, na pesquisa destas riquezas secretas, voltando ao amanhecer, cansados e cobertos de poeira, como tivessem sido perseguidos por um fantasma!...

Um autor de respeito

“Gloria a Dios, Honor a inmaculada Concepción, como al fundador y mártir, S. Roque González de la Cruz!”

As citações que estamos utilizando para recuperar aspectos desconhecidos da trajetória do Padre Roque Gonzales, provém do padre Carlos Teschauer (Birnstein, Alemanha, 10.04.1851 - São Leopoldo, 16.08.1930 ), autor do monumental estudo História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos, em três volumes, publicados nos anos de 1918 a 1922, totalizando mais de 1.500 páginas (esta coleção de três volumes estava esgotada nas livrarias há quase 80 anos, tendo sido relançada em 2 edição no ano de 2002).
Carlos Teschauer teve reconhecimento oficial quando ainda existia. Isso ocorreu no dia 25.10.1928, quando o futuro presidente da República, então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, fez uma visita ao Colégio Anchieta, em Porto Alegre, para, entre outras coisas, “agradecer ao padre Carlos Teschauer, o muito que havia contribuído pelo engrandecimento do Rio Grande do Sul, com sua célebre história, da qual afirmou tê-la lido e apresentado.” (*)
Getúlio Vargas, aliás, missioneiro de São Borja, foi o recuperador do sítio arqueológico de São Miguel das Missões para a história universal, tendo sido feita a reforma, “pedra por pedra”, conforme o Sergio Venturini, das Ruínas. Em 1937, durante o 1 Governo Vargas, as Ruínas de São Miguel das Missões, foram declaradas o 1 sítio de preservação como patrimônio nacional (em 1983 foi a vez da Unesco declará-las em escala mundial).

O padre jesuíta Carlos Teschauer foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em 1920. Dele disse seu colega Pe. Luiz Gonzaga Jaeger, S.J.: “foi o jesuíta que mais contribuiu para aumentar a estima da Companhia de Jesus entre o mundo intelectual brasileiro, durante os três primeiros decênios do século XX. Batalhou pela justiça e pela verdade no campo da história nacional.”
Teschauer é citado como referência de escritor por ninguém menos que o gigante estudioso do folclore brasileiro, Câmara Cascudo. Já o Dicionário de Folcloristas Brasileiros o nomeia como “Uma das maiores autoridades em matéria de história, indiologia e etnologia do Rio Grande do Sul.”
Também a Parroquia Inmaculada Concepción, de Santa Cruz de la Sierra, Argentina, da qual utilizamos a abertura deste quadro, em espanhol, em seus arquivos, escolheu e cita o jesuíta Teschauer como referência para demarcar a data oficial da construção da Redução pelo Padre Roque Gonzales: 08.12.1619.
Teschauer foi um estudioso da flora e da fauna. A frase dela que utilizamos para trazer para a Linha Itaquararé seus prováveis primeiros passos no RS, na edição anterior do Igaçaba: “na altura da barra do afluente Aracatim” referem-se a uma árvore! Provavelmente em extinção.
Apenas fui encontrar na internet exemplares de aracatim, ao lado de outras árvores da flora nativa brasileira, como canela, jequitibá, jacarandá e cabreuva, plantadas no Parque Trianon, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (SP)!
Como toda denominação topográfica indígena, a árvore do aracatim serviu de referência para tornar conhecido o local (JWG).

(*) Jornal A Federação, citado por Luiz Osvaldo Leite, professor de Ética e ex-diretor da Faculdade de Psicologia da UFRGS, no artigo “O livro que Getúlio leu”, na coletânea “RS: História, Cultura e Ciência”, Cipel, Porto Alegre, 2002.

Músicas para embalar corações

A tecnologia do CD superou o antigo disco de vinil mas, quantos sucessos inesquecíveis repousam hoje com seu som arranhado, pela poeira e agulhas “rombudas”, nas discotecas caseiras? São discos que marcaram suas épocas em nossas vidas, de ouvintes a...cantores!
Dia desses eu estava bancando o DJ nestas raridades quando tocou o celular: “Porquê demorou a atender? Quem está aí?”, perguntou uma senhorita. “É a Joanna” respondi. Em face da insistência, porém, tive de esclarecer que a Joanna em questão, era a cantora da música Amanhã Talvez. Uma delícia, a música, e se emendar ela com Bate Coração, de Leandro & Leonardo, e Vitoriosa, de Ivan Lins, se estará com um clima propício para dançar de rosto colado a media luz, além dos amassos inerentes à ocasião, pois aí não há coração que resista e, três são multidão...No mundo musical, assim como no literário, existem as seleções e vários roque-gonzalenses já tiveram suas músicas gravadas em disco desta forma, faltando, entretanto, se fazer uma pesquisa a fundo na questão. Menciono apenas dois casos aqui, por estar com os discos, e que são a Marisa da Silva, que em 1992, gravou “Chora Peito” como intérprete no LP Gente Missioneira/3 e o Eliseu Rambo, gravando em 1993 a faixa “Rio Ijuí”, no LP Cerro Largo Canta. Abrimos com esta breve introdução, um trabalho de pesquisa sobre cantores daqui que já gravaram músicas em discos diversos, para organizar a nossa História Musical. (JWG).

Fábrica de Gazosa Zimmer

Uma referência regional
Por: João Weber Griebeler
Município formado em sua maioria por imigrantes de origem alemã, Roque Gonzales sempre teve uma história própria, baseada na iniciativa e arrojo de sua população, que nunca mediu esforços para realizar seus objetivos, tanto que apesar das dificuldades enfrentadas ao longo destes 34 anos de emancipação, o município tem se constituído num pólo de desenvolvimento regional. Cresce a cidade, vilas e bairros e o setor comercial e industrial se torna cada vez mais diversificado.
Uma experiência pioneira que tivemos aqui foi a Fábrica de Gazosa e Refrigerante de Laudelino Zimmer, administrada pelo seu proprietário e familiares, que incluía sua esposa Alma e o irmão dela, Osmar Scheeren, com início de atividades no ano de 1958. Mais tarde, com a saída de Osmar, começaram a trabalhar na indústria Derli Hilbig (residindo atualmente em São Luiz Gonzaga), ali ficando por onze anos e Círio Schu, por três anos.
De acordo com uma das mais dedicadas trabalhadoras da empresa, D. Alma, a primeira tachada da Cerveja Pirapó, eqüivalendo a 25 caixas, cada uma contendo 24 garrafas, foi distribuída gratuitamente aos vizinhos e amigos, comprovando que na época já se fazia um ótimo marketing para dominar o mercado e, diga-se de passagem, ao longo das décadas seguintes, o nome de Laudelino Zimmer sempre esteve em evidência, firmando-se como o maior comerciante de bebidas a nível local.
Além da cerveja branca e preta, industrializava-se a gasosa com sabor laranja e abacaxi, o guaraná, framboesa e tutti frutti.
O primeiro contato que, particularmente, tivemos com a Fábrica de Gazosa, produto que foi, por sinal, a grande referência desta indústria roquegonzalense, foi quando nos mostraram um rótulo de guaraná da década de 60. Emblema histórico da indústria, cujo número no Cadastro Geral de Contribuintes era 88.895.594. Esta etiqueta prima por sua raridade, pois foi a única que pudemos ainda encontrar daquela marca de bebida.
Fechada há cerca de 30 anos, a antiga fábrica ainda está lá, tal como era, em sólida estrutura de tijolo, abrigando em seu recinto todo um passado histórico, digno de preservação. Visitando suas instalações, encontra-se praticamente todo o maquinário utilizado naquela época. O tacho para fazer cerveja fica do lado de fora, na entrada junto ao fogo que fermentava o levedo e deixava a infusão pronta para ser engarrafada.
Dentro, está a máquina de fazer o delicioso guaraná, o engarrafador, movido a pedal, o lavador de garrafas e o poço de água límpida. A produção em média atingia 150 caixas semanais.
O transporte dos engradados de garrafas e barris de cachaça no início era realizado por uma carroça, puxada por uma junta de bois. Levava-se nas viagens 25 engradados, carga máxima da carroça. Como “combustível”, ia milho debulhado para alimentar o gado. A área de entregas envolvia as localidades da Florida, São Sebastião, Dezesseis de Novembro, Afonso Rodrigues, Colônias Limeira e Laranjeira.
Isso durou até que foi adquirido um caminhão Chevrolet 1956, quando a abrangência da distribuição atingiu todo o município substituindo-se este por um do ano 58. O terceiro caminhão foi um Ford F-5, de 1958. Depois veio um F- Super/61, seguindo-se o Ford 1960, que a família ainda possui, tendo inclusive ganho uma gincana com ele por ser o veículo mais antigo de Roque Gonzales e, ainda em perfeitas condições de trafegabilidade!
Com o caminhão, viajava toda a família na entrega de bebidas nas festas. Partia-se nos domingos pela manhã e voltavam à tardinha. Como não havia congelador nem energia elétrica na maioria das comunidades interioranas, buscava-se no dia anterior, em Cerro Largo, blocos de gelo para “refrescar” as garrafas. O gelo era preservado sendo envolto em bolsas de estopa recheadas de serragem.
Na antiga sede social do Clube 15 de Novembro, havia um porão para tal fim, onde se depositavam as garrafas, cobrindo-as com serragem e jogando água por cima. Laudelino conta que quando se desmanchou este porão, ainda havia lá garrafas da Cerveja Pirapó, guardadas há coisa de 3 ou 4 anos!
Em 1968, inicia-se também o depósito de bebidas, das marcas Brahma e Serramalte, além da Coca-Cola. A indústria de bebidas esteve em atividades até o ano de 1970, prosseguindo depois como depósito de bebidas, com breve interrupção de alguns anos.
Em fevereiro de 1991, através da constituição da empresa Atacadista de Bebidas Zimmer, a cargo de Marcone Zimmer, a família volta ao ramo de comércio de bebidas, adquirindo de Zenone de Pelegrin. Quase todas as marcas de bebidas encontram-se disponíveis, cervejas Skol, Brahma, refrigerantes Pepsi-Cola, Teen, Mirinda, etc., atendendo-se as comunidades de Colônia Laranjeira, Limeira, Esquina Laranjeira, Gramado, Flach, Linha Sobrado, Saltinho, Rincão do Meio, Rincão Vermelho, Portão, Esquina Fátima, Emanuel e Vila Dona Otília. Enfim, todo o município de Roque Gonzales, mais as localidades de Afonso Rodrigues e Rincão São João.
Os telefones da empresa são: (55) 365 - 1158 (Com.)/365 - 1401 (Res.).

Uma colonização possível

A cidade de Roque Gonzales está construída num aprazível vale, tendo ao seu redor formadas diversas elevações e cerros. Os primeiros itinerários para se ir ao Salto Pirapó, circundavam o atual Bairro São José (ponto de parada, depois de viajar 2 ou 3 dias e mais de 30 km, em carroça ou a cavalo, vindos de São Luiz Gonzaga ou Cerro Azul: a água da Cascatinha), as Vilas Santo Antônio e Progresso, Zimmer e o cerro, que viria a ser identificado popularmente como Simão, devido a casa do seu morador único morador: Simão Kliemann.
Quando se procura reconstituir o passado, deve-se esquecer as atuais ligações asfálticas e estrada vicinais. Quando aqui chegaram os primeiros colonizadores, tudo era coberto por mato. É claro que antes da compra das áreas de terras e do loteamento, os futuros proprietários Júlio Schwenberg Sobrinho e Major Antônio Cardoso (e seus empregados), devem ter percorrido muitas vezes a região, formando caminhos a facão na mata. A colonização ocorreu para construir a Usina Hidrelétrica do Salto. Para isso necessitava de pessoas e de um centro urbano para trazer os produtos indispensáveis para manter a colônia.
(2004, por João Weber Griebeler, Roque Gonzales/RS. (JWG).

Cascatinha: quem de tua água bebeu, aqui retorna!

Os primeiros colonizadores alemães, ao chegarem nas proximidades do que seria o futuro povoado de Roque Gonzales, escolheram um lugar de parada, um local que contivesse o líquido indispensável à sobrevivência: a água. E o título acima ainda hoje é repetido por muitas pessoas de mais idade: quem bebeu da tua água, e Roque Gonzales continua a fornecer uma das melhores águas da região para seus habitantes!
Como esse recanto todo era uma floresta, embora a única ainda algo indevassada, pois os povoados do que seriam os futuros municípios ao redor já estavam formados e Roque Gonzales foi um dos últimos a serem constituídos, há cerca de 82 anos, foi escolhido este local com água para beber, para lavar roupas, para tomar banho: a Cascatinha.
Com nascentes no atual Bairro São José, o arroio vem abrindo caminho por diversas propriedades, formando o “Poção”, local que era um dos principais pontos de encontro da juventude (guris, principalmente), no início da formação do município, na década de 1960 (depois veio a Barrinha, próxima ao atual estádio da Ser Olaria), para lazer e mergulhar em suas águas paradas.
O arroio continua sua trajetória e cruza canalizado, o atual acesso asfáltico de saída da cidade de Roque Gonzales indo formar tombar queda d’água da Cascatinha, na propriedade do Sr. Soni Kreutz. Até ai o arroio continua anônimo, sem nome e, mais adiante, ao tomar ares mais urbanos, deságua no Lageado Delfino, indo até o rio Ijuí.
Historicamente, a Cascatinha é reconhecida como primeiro contato dos colonizadores com a cidade de Roque Gonzales, tanto que, em 1967/8, foi escolhido o nome do Centro de Tradições Gaúchas como CTG Sentinelas da Cascata, em homenagem ao local, quando ainda estavam vivos muitos dos primeiros habitantes do primeiro núcleo urbano que formaria a cidade de Roque Gonzales.
Inicialmente, foi instalado um manjolo na Cascatinha, movido com a queda d’água, para socar e moer a canjica para os colonos.
Hoje com acúmulo de terras, o tombo da Cascatinha está reduzido, havendo disposição do proprietário Soni Kreutz em remover as terras que foram se acumulando ao longo dos anos e preparar o local como primeiro contato dos visitantes com as atrações turísticas de Roque Gonzales, pois foi aqui que tudo começou, quando o mato era dono. (JWG).

Vila Seca x Vila Sapo

Popularmente, até a poucos anos, a Vila Santo Antônio se denominava de Vila Seca, pelo fato de ser escassa a água para consumo. O único poço d´água se localizava em terras do primeiro morador, Leopoldo Weber, meu avó!
Por isso, são de fundamental importância a inclusão e participação dos alunos da E. M. Santo Antônio de Pádua (além da Érico Veríssimo) em campanhas ecológicas de preservação e limpeza dos arroios e nascentes que deságuam na Cascatinha.
Por outro lado, nas proximidades de onde está a Cascatinha, se denominava de Vila Sapo, devido às inúmeras vertentes que nasciam por ali. O citado manjolo foi certamente à primeira máquina industrial em operação na futura cidade, feito exclusivamente de madeira e sendo acionado pela metódica queda d´água da Cascatinha.
A primeira associação constituída na cidade de Roque Gonzales foi a da Paróquia São Roque Gonzales, em 06/01/1928, reunida em assembléia para deliberar sobre a construção da primeira capela do jovem núcleo urbano e da construção do cemitério.
Na oportunidade, toda a comunidade local era católica e um detalhe chama a atenção: dos 14 presentes signatários da reunião (que seriam as famílias a serem homenageadas na hipótese de um Memorial da Colonização), todos eram homens, chefes de família e havia apenas um que era de origem alemã, Manuel Freitas, proprietário naqueles idos do que deve ter sido a primeira padaria da cidade, na subida da Avenida Pirapó, próximo de onde hoje está o escritório da CVP!
Destas 14 famílias, algumas quase não existem mais na cidade, outras, porém, são das mais numerosas: Steffen, Mayer(2), Zimmer, Eicheberger, Spohr, Scmidt, Unfried, Weschenfelder, Horn, Tenroller, Götz, Kist, e Freitas. Para se ampliar o número de famílias da colonização, basta bsucar algumas atas, não necessariamente católicas, posteriores à janeiro de 1928!
Aliás, a Vila Sapo, ou bem ali nas proximidades, foi origem da cidade, e abrigou vários projetos de industrialização, como a marcenaria da Família Uhmann, na Rua Independência. As serrarias dos Poersch e do Fritz Hilbig, locais onde se acumulavam montanhas de serragem da madeira das toras serradas e onde a criançada cavava túneis para brincar de esconde-esconde.
A serraria do Fritz Hilbig, também industrializava carrocerias de madeira(!) para ônibus, as anos de 1940, 50...
Por João Weber Griebeler