sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nossas Raízes Jesuitícas

O dia primeiro de setembro, além da abertura da Semana da Pátria em todo o país, teve o desenrolar de uma exigente agenda de turismo histórico em Roque Gonzales, atividade esta que havia sido acertada há mais de um mês com Sergio Venturini, Consultor Externo em História, pelo Sebrae/Rota Missões.
Partindo da cidade de Roque Gonzales pela B-392 no início da manhã, no carro do Venturini, ao chegar nas proximidades do Santuário de Assunção do Ijuí ingressamos na excelente estrada de chão, mantida pela Administração Municipal de Roque Gonzales.
Linha Saltinho, Rincão do Meio e Rincão Vermelho, onde chegamos rodando sobre o caprichado calçamento, recém concluído, no início do perímetro urbano do Distrito. O ponto de chegada foi na Sub-Prefeitura municipal. A seguir o encontro com os guias turísticos desta incursão: professores Isabel Marasca e Egídio Szinvelski, profundos conhecedores da história local.
As estradas vicinais, entre as divisas dos municípios de Roque Gonzales e Porto Xavier se cruzam de forma constante. Ora se está num, ora noutro município, reflexos da mutilação do antigo Distrito de Porto Xavier na década de 1960, quando se constituiu, algo atabalhoadamente, as áreas emancipandas, para conquistar determinados colégios eleitorais.
Uma das características de quem trafega nesta região fronteiriça neste período, é encontrar veículos abarrotados de cana de açúcar, pessoas trabalhando no corte da safra, depois da queima da palha. Roque Gonzales é um dos principais municípios produtores da cana no estado do Rio Grande do Sul. Os alambiques estão retornando, quem sabe, brevemente, a boa cachaça rinconense não estará participando de feiras nacionais, como a próxima Expo-cachaça, a realizar-se em São Paulo, de 16 a 19 de setembro?
Em ritmo acelerado, visitamos o Serro Pelado, já no município de Porto Xavier, onde se vislumbra uma visão panorâmica da região inteira, de Porto Lucena a Concepción da la Sierra, na Argentina, passando pela indústria canavieira da Coopercana em (Porto) Xavier, o rio Uruguai prateado e vários povoados castelhanos. A rapidez da escalada fez com que este escriba repentinamente metido em turismo de aventuras, encontrasse na vegetação da colina um cipó “unha de gato”, que por pouco não lacera o olho direito, ferindo apenas a pestana!
Baixando o Serro Pelado, nos dirigimos até a Linha Itaquararé, na Costa do Uruguai, mais precisamente ao local que, segundo tudo consta (Teschauer, 1918), teria sido palco da primeira travessia do rio Uruguai pelo Pe. Roque Gonzales, em 1619, permanecendo a comitiva desbravadora jesuítica ali por pouco tempo, devido a região estar ocupada por índios guarani hostis a sua presença.
Em épocas de estiagem, o volume d’água do rio Uruguai baixa sensivelmente, tornando possível a travessia em determinadas pedras mais salientes do leito do rio. Guarda-se na memória popular uma antológica travessia de caminhão pelo rio Uruguai, na grande seca de 1943, no mesmo local que estamos aventando como ser do primeiro ingresso do Pe. Roque em terras rio-grandenses.
Isso faz sentido porque a data provável da travessia do Pe. Roque, em 1619, foi no período abrangido pelos meses de outubro a novembro, propícios a estiagem em nossa região missioneira.
Esta região se tornou efetivamente o centro de irradiação da colonização jesuítica, capitaneada pelo Pe. Roque, visto que Concepción de la Sierra, base do ingresso para São Nicolau e a 1 missa oficial em 1626, dista apenas cerca de 18 quilômetros de Itaquararé, sendo que a primeira tentativa de travessia do rio Uruguai, obviamente, teria que ser no lugar mais próximo. O Pe. Roque não ficou sete anos cochilando e olhando o rio passar. Houve tentativas de ingresso e isso está bem documentado.
No local, também está sendo prevista a construção da Usina Hidrelétrica Garabi 2, para atenuar a altura da Garabi 1, pois se for mantida a projetada construção da usina de Garruchos, em discussão há mais de 30 anos (!), será um desastre ecológico regional, devido ao impacto ambiental do alagamento proporcionado pela barragem.
A seguir, fomos até o Cemitério dos Evangélicos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que abriga um dos mais antigos cemitérios da colonização de origem alemã na região, construído nos idos de 1910.
Enfim, nos dirigimos a Barra do Ijuí, que fica a apenas 13 km de Concepcion de la Sierra, onde o Pe. Roque, após concluir a catequese na redução de São Nicolau, garantiu a travessia por barco pelo rio Ijuí, que ali tem o encontro de suas águas com o rio Uruguai, até Assunção do Ijuí (1628) e o Salto Pirapó.
Este rápido percurso, in loco, garantiu um imenso descortinar de horizontes em relação aos itinerários empreendidos pelo Padre Roque Gonzales na catequese indígena.
Um contato epidérmico com as dificuldades do terreno, permite compreender o grande caracter empreendedor do Pe. Roque.
Falta apurar o dia exato desta travessia pelo rio Uruguai até a Linha Itaquararé em 1619, fato que, adiantaria o prazo para o início das comemorações dos 400 anos das Missões, proposto pelo Sergio Venturini no início da formatação da Trilha dos Santos Mártires.
Uma das propostas a serem formuladas, desde já, para fato histórico desta magnitude, refere-se a construção, no Distrito do Rincão Vermelho, de um Memorial da Colonização Jesuítica e o Pe. Roque, pelos 400 anos das Missões do RS, em terras protegidas de ameaças de inundação, em parceria com os três países com legado missioneiro: Argentina, Brasil e Paraguai. Com verbas, obviamente, dos ministérios da Cultura e do Turismo.
O Rincão Vermelho tem um grande potencial turístico, que não é apenas o Festival do Barco e Pesca, durante uma semana por ano, no mês de fevereiro. Há que se arrumar atividades para as outras 51 semanas do ano. O legado de muitas histórias épicas, ligadas à proximidade com a Argentina, as escaramuças de fronteira, tiroteios, mortes, contrabando de farinha, gasolina e pneus, o mitológico “Hotel dos Contrabandistas”, etc., tornam o Distrito um local ideal para formatar um roteiro de visitação turística, vindo pelos rios Ijuí e Uruguai, retornando por terra.
Qualquer projeto de atividade turística regional, deve, necessariamente, incluir esta região limítrofe com a Argentina e com o Paraguai bem próximo, onde o município de Porto Xavier, com seu porto internacional é o segundo no RS em circulação de mercadorias, sendo o portão de entrada oficial dos países do Mercosul nas Missões. (JWG).

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