sábado, 4 de setembro de 2010

O “fut-fut” venenoso do nosso perímetro urbano

O uso de substâncias secantes no inço verde da agricultura, assim como no perímetro urbano, tal como nas pedras do calçamento das ruas e terrenos, é algo corriqueiro para as pessoas menos avisadas dos malefícios que estão causando a si mesmas, bem como aos outros que não tem nada a ver com esse tipo de aplicação de pesticida.
É o popular “fut-fut” das máquinas de vaporização, prática comum nas lavouras e, agora nas cidades para acabar com o verde e as ervas, chamadas de “daninhas”!
A origem destes secantes está na guerra do Vietnam e no uso do Agente Laranja, um desfolhante para acabar com as folhas das árvores e possibilitar a visão dos guerrilheiros escondidos na mata, permitindo assim serem metralhados e mortos pelos aviões de combate que sobrevoarem o local.
O resultado de tal prática foi os Estados Unidos perderem a guerra para os vietcongs em 1975 e saírem corridos de lá, acabando com isso a discórdia e tornando viável a unificação do Vietnam do Norte con o Vietnam do Sul. Entretanto, milhares de vidas foram ceifadas pela guerra e, centenas de pessoas convivem com os efeitos danosos do uso destes secantes pesticidas!
Particularmente, eu (JWG), morando na altura da Rua Padre Nóbrega, 245, na cidade de Roque Gonzales, tenho um vizinho que faz vaporização frequente nas plantas que estão encostadas na cerca de separação dos terrenos, mesmo com o alerta de que está utilizando veneno, mesmo que esse seja “permitido”, não para com esse hábito danoso!
A sensação de estar praticando um ato delituoso, leva o dito cujo, a espalhar veneno inclusive aos domingos, como no dia 29/08/10, por volta das 13h!
Entretanto, o secante espalhado pelas ruas de paralelepípedos e terrenos, deverá ser proibido, pois com o fechamento das comportas da Usina Passo São João, a água será represada e aí, com o uso dos venenos que irão parar no lago, levados pelas chuvas, teremos um local de águas pútridas e mortas!
O lago da barragem por si só deverá ser uma fonte de mau cheiro, devido ao represamento das águas do Rio Ijuí, que trarão a poluição e a bosta de cidades como Santo Ângelo, Cerro Largo e etc. (JWG).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A mesma praça, outros bancos e jardim...

Por João Weber Griebeler
Ouvi pela primeira vez, de modo marcante, a cantora paraguaia Perla, em janeiro do distante ano de 1975, numa apresentação do circo ROSSMARC, naquela noite em que o Teixeirinha e a Mary Terezinha estiveram pela única vez em Roque Gonzales, para se ver o tamanho da promoção. As ruas próximas se encontravam estavam tomadas de automóveis Aero Willys, Fuscas, Rural, Fords da década de 40, 50 (o Corcel era novidade)!....
O circo estava armado na Praça Tiradentes, que havia sido aplainada há pouco tempo, deixando de ser campo de futebol, para virar praça.
Pois nessa noite histórica em que vi o Teixeirinha, me fixei mais na Perla, por causa da inebriante música ESTRADA DO SOL, que servia de movimentação para a bela contorcionista de biquíni vermelho se exibir. Tinha um espectador ao meu lado na arquibancada que ficava de pé, se espichando para “bombear” por mais “detalhes” da bailarina!
Alguém se lembra de alguns acampamentos de ciganos que também por ali estiveram? Recordando daquele longevo período, uma cigana que veio ler a sorte em nossa casa, ficou espantada com os “trabalhos”, aprontados pelo reino das trevas para cima da família Weber/Griebeler!
Depois desta rápida consulta, até então a preço módico, houve uma demorada, envolvente e convincente conversa e, assim, numa fria e embarrada noite de garoa, (não havia calçamento na maioria das ruas!), meu pai se esgueirou para debaixo das lonas da cartomante no acampamento cigano na Praça Tiradentes, voltando mais tarde desanimado: o preço que haviam apresentado para “desmanchar” as maquinações era muito elevado!

Asas para voar

Desde os primórdios da humanidade, pensamos em nos elevar aos ares, como os pássaros. Mesmo que a teoria do evolucionismo tenha baixado a gente das árvores para rastejar pelo solo!
De minha parte, tenho admiração pelas aves e, deve ser pelo desmatamento que está ocorrendo nos minguados capões de mato que ainda existiam, ocasionado pela construção da Usina Passo São João, apareceram na última primavera, e agora se repete, a vinda em nosso pátio de três pássaros, parecidos com um sabiá mais delgado (na foto o sabiá), negros retintos e lustrosos. Também nesse período, andaram aterrissando na quirera que espalhamos para eles, uma família de uns dez pelinchos (nome só usado no RS, em outras plagas, é anu-branco, alma de gato, rabo de palha, etc). De quando em quando, lá pelas três horas da madrugada, se ouve um piar lamentoso… deve ser o urutau que vaga, procurando pouso num galho não mais existente!
Também alguma coruja se pronuncia. Dizem que antigamente, era meio lúgubre caminhar pelo interior, onde em cada moirão de cerca, se ouvia elas a piar em sinfonia!
Conjuntura deste poeta e escriba, inspirado pelas madrugadas, descrevendo o que motiva algumas das poesias!

Roque Gonzales e o Turismo

Por João Weber Griebeler
Em Roque Gonzales está acontecendo uma transformação significativa, com a diminuição do setor rural, devido em partes a perda de áreas agricultáveis para a barragem da Usina Passo São João e, também, devido ao envelhecimento da população que estava radicada na agricultura, a qual, ao obter a sua aposentadoria, passa a acalentar o sonho de melhorar de vida, residindo na cidade.
Todos, enfim, atingidos pela barragem e ex-agricultores já na terceira idade, passam a integrar o meio urbano, necessitando, portanto, a cidade a ter de oferecer outras oportunidades de empregos e negócios para sua população e, sem dúvida, uma dessas possibilidades é mudar a força da matriz produtiva, inovando em outros pólos de negócios e formas de se qualificar produtos e ganhar renda.
Uma dessas opções é a considerada “indústria sem chaminés”: o turismo e, Roque Gonzales, está passando por uma oportunidade única na história regional com a construção da Usina Passo São João.
Vamos ter, enfim, atrativos capazes de motivar visitantes a virem de outras cidades para Roque Gonzales, seja para conhecerem a primeira estação geradora de energia do governo federal na retomada da Eletrosul, no próximo ano de 2010, seja para conhecerem o lago da barragem e o atrativo de um balneário sustentável, equipado com atrativos únicos na região para o esporte aquático e o lazer, sem contar outras atrações que, já temos, bastando olhar ao nosso redor e elencar alguns destes locais.
Este é o objetivo de uma série de matérias que o Jornal Igaçaba vai procurar proporcionar aos seus leitores!
Destes locais a merecer destaque, um dos cartões postais mais visitados, filmado e fotografado pelos visitantes é a Igreja Matriz da Paróquia São Roque Gonzales, com a pedra fundamental da edificação tendo sido lançada no dia 14/05/1950, nos tempos em que pertencíamos à Paróquia de Pirapó, sob o comando do Padre Francisco Rieger, com Bruno Heinzmmann sendo o construtor responsável pela obra
Entre a construção da igreja nos anos 1950 e a época atual, houve sensíveis modificações na Igreja Católica, principalmente devido ao 2o Concílio Vaticano, como o costume de celebrar a missa em latim e o pároco rezar de costas para os fiéis.
O melhor exemplo está na arquitetura, com a igreja de Roque Gonzales sendo uma das últimas construídas no estilo medieval nas Missões, neo-gótico (dos quais, uma das referências é a Igreja Votiva, em Viena (Áustria), denominado de ARQUITETURA REVIVALISTA, com raízes na Inglaterra do século 18 e grande influência na Europa e Américas, como a Catedral de São Paulo com suas duas torres.
Um detalhe a observar é que esta não é a primeira igreja católica matriz de Roque Gonzales. A antiga igreja era apenas uma capela, dedicada a São Pedro Canísio, que fazia também de local de escola, a Escola Roque Gonzales, com o sino ficando num campanário ao lado e, estava localizada onde hoje é a primeira sala do Centro Catequético. Aliás, este foi construído com os tijolos e todo o material da antiga igreja, demolida no dia 03/01/1955..
O 1o documento de uma associação de cidadãos roque-gonzalenses foi a ata de fundação da igreja, da escola e do cemitério, em 06/01/1928 (até pouco tempo, o dia 06 de janeiro costumava ser feriado, devido ser o DIA DE REIS, tanto que a data de fundação do Olaria FC, em 1966, também foi nesse dia, por ser um dia santo de se guardar!).
Mesmo tendo uma nova e ambiciosa estrutura, a nova igreja permaneceu capela até o dia 14/04/1963, quando passou a ser paróquia e o 1o pároco foi Monsenhor Luiz Kreutz, nomeado em 23/06/1963.
Uma visitação aos locais religiosos de Roque Gonzales deve incluir a Casa Canônica, ao lado da igreja, que é outra significativa construção da arquitetura religiosa, iniciada em 25/11/1962, sob a determinação do Padre Fridolino Binsfeld, muito empreendedor e construtor!

Colorindo a Luz do Senhor - Os vitrais coloridos que ornamentam as janelas tem toda uma simbologia, sendo os dez principais com o tema da Via Sacra e quatro menores (do Altar).
Está se pensando numa restauração destes vitrais, obra demorada e que demandará cerca de um ano de trabalho, com um custo aproximado de R$ 17 mil, conforme avaliação de empresa restauradora da cidade de Canoas.

Histórico - As comunidades reunidas em capelas formam as paróquias e, estas, as dioceses e, seu número e constituição no decorrer dos anos, é uma história própria, com opções e desistências. Assim, do que viria a ser o futuro município de Roque Gonzales, a primeira comunidade a constar na formação de uma paróquia é a da Barra do Ijúi, formando em 1932 a Paróquia São José, de Pirapó.
A Paróquia Sagrada Família de Nazaré, de Serro Azul (Cerro Largo), criada em 1919, rezava, em ata constante do livro da Diocese Missioneira de Santo Ângelo, que vinha “fazendo divisa com o Rio Ijuí” acompanhado a seguir “a sombra do mato até a Linha Dona Helena”. Ou seja, até a Esquina Fátima e passando pela Vila Dona Otília.
A criação solene da comunidade de Roque Gonzales foi em 27/01/1927, em missa celebrada pelo Monsenhor Estanislau Wolski, quando integrávamos a Paróquia São Luiz Gonzaga, criada em 08/01/1859, em decreto da Assembléia Legislativa e o Governo Imperial!
A nossa Paróquia São Roque Gonzales foi formada pelo Bispo Dom Aloisio Lorscheider, desmembrando as comunidades da paróquia de Pirapó (Roque Gonzales, Colônia Laranjeira, Nova Flórida e Rincão São João), da paróquia de São Luzi Gonzaga (Afonso Rodrigues); de Cerro Largo (Esquina Fátima e Santa Teresinha) e de São Paulo das Missões (Linha Sobrado).
Todos pertenciam à Diocese de Uruguaiana, até a criação da Diocese Angelopolitana, criada em 22/05/1961 e instalada em 12/06/1962.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nossas Raízes Jesuitícas

O dia primeiro de setembro, além da abertura da Semana da Pátria em todo o país, teve o desenrolar de uma exigente agenda de turismo histórico em Roque Gonzales, atividade esta que havia sido acertada há mais de um mês com Sergio Venturini, Consultor Externo em História, pelo Sebrae/Rota Missões.
Partindo da cidade de Roque Gonzales pela B-392 no início da manhã, no carro do Venturini, ao chegar nas proximidades do Santuário de Assunção do Ijuí ingressamos na excelente estrada de chão, mantida pela Administração Municipal de Roque Gonzales.
Linha Saltinho, Rincão do Meio e Rincão Vermelho, onde chegamos rodando sobre o caprichado calçamento, recém concluído, no início do perímetro urbano do Distrito. O ponto de chegada foi na Sub-Prefeitura municipal. A seguir o encontro com os guias turísticos desta incursão: professores Isabel Marasca e Egídio Szinvelski, profundos conhecedores da história local.
As estradas vicinais, entre as divisas dos municípios de Roque Gonzales e Porto Xavier se cruzam de forma constante. Ora se está num, ora noutro município, reflexos da mutilação do antigo Distrito de Porto Xavier na década de 1960, quando se constituiu, algo atabalhoadamente, as áreas emancipandas, para conquistar determinados colégios eleitorais.
Uma das características de quem trafega nesta região fronteiriça neste período, é encontrar veículos abarrotados de cana de açúcar, pessoas trabalhando no corte da safra, depois da queima da palha. Roque Gonzales é um dos principais municípios produtores da cana no estado do Rio Grande do Sul. Os alambiques estão retornando, quem sabe, brevemente, a boa cachaça rinconense não estará participando de feiras nacionais, como a próxima Expo-cachaça, a realizar-se em São Paulo, de 16 a 19 de setembro?
Em ritmo acelerado, visitamos o Serro Pelado, já no município de Porto Xavier, onde se vislumbra uma visão panorâmica da região inteira, de Porto Lucena a Concepción da la Sierra, na Argentina, passando pela indústria canavieira da Coopercana em (Porto) Xavier, o rio Uruguai prateado e vários povoados castelhanos. A rapidez da escalada fez com que este escriba repentinamente metido em turismo de aventuras, encontrasse na vegetação da colina um cipó “unha de gato”, que por pouco não lacera o olho direito, ferindo apenas a pestana!
Baixando o Serro Pelado, nos dirigimos até a Linha Itaquararé, na Costa do Uruguai, mais precisamente ao local que, segundo tudo consta (Teschauer, 1918), teria sido palco da primeira travessia do rio Uruguai pelo Pe. Roque Gonzales, em 1619, permanecendo a comitiva desbravadora jesuítica ali por pouco tempo, devido a região estar ocupada por índios guarani hostis a sua presença.
Em épocas de estiagem, o volume d’água do rio Uruguai baixa sensivelmente, tornando possível a travessia em determinadas pedras mais salientes do leito do rio. Guarda-se na memória popular uma antológica travessia de caminhão pelo rio Uruguai, na grande seca de 1943, no mesmo local que estamos aventando como ser do primeiro ingresso do Pe. Roque em terras rio-grandenses.
Isso faz sentido porque a data provável da travessia do Pe. Roque, em 1619, foi no período abrangido pelos meses de outubro a novembro, propícios a estiagem em nossa região missioneira.
Esta região se tornou efetivamente o centro de irradiação da colonização jesuítica, capitaneada pelo Pe. Roque, visto que Concepción de la Sierra, base do ingresso para São Nicolau e a 1 missa oficial em 1626, dista apenas cerca de 18 quilômetros de Itaquararé, sendo que a primeira tentativa de travessia do rio Uruguai, obviamente, teria que ser no lugar mais próximo. O Pe. Roque não ficou sete anos cochilando e olhando o rio passar. Houve tentativas de ingresso e isso está bem documentado.
No local, também está sendo prevista a construção da Usina Hidrelétrica Garabi 2, para atenuar a altura da Garabi 1, pois se for mantida a projetada construção da usina de Garruchos, em discussão há mais de 30 anos (!), será um desastre ecológico regional, devido ao impacto ambiental do alagamento proporcionado pela barragem.
A seguir, fomos até o Cemitério dos Evangélicos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que abriga um dos mais antigos cemitérios da colonização de origem alemã na região, construído nos idos de 1910.
Enfim, nos dirigimos a Barra do Ijuí, que fica a apenas 13 km de Concepcion de la Sierra, onde o Pe. Roque, após concluir a catequese na redução de São Nicolau, garantiu a travessia por barco pelo rio Ijuí, que ali tem o encontro de suas águas com o rio Uruguai, até Assunção do Ijuí (1628) e o Salto Pirapó.
Este rápido percurso, in loco, garantiu um imenso descortinar de horizontes em relação aos itinerários empreendidos pelo Padre Roque Gonzales na catequese indígena.
Um contato epidérmico com as dificuldades do terreno, permite compreender o grande caracter empreendedor do Pe. Roque.
Falta apurar o dia exato desta travessia pelo rio Uruguai até a Linha Itaquararé em 1619, fato que, adiantaria o prazo para o início das comemorações dos 400 anos das Missões, proposto pelo Sergio Venturini no início da formatação da Trilha dos Santos Mártires.
Uma das propostas a serem formuladas, desde já, para fato histórico desta magnitude, refere-se a construção, no Distrito do Rincão Vermelho, de um Memorial da Colonização Jesuítica e o Pe. Roque, pelos 400 anos das Missões do RS, em terras protegidas de ameaças de inundação, em parceria com os três países com legado missioneiro: Argentina, Brasil e Paraguai. Com verbas, obviamente, dos ministérios da Cultura e do Turismo.
O Rincão Vermelho tem um grande potencial turístico, que não é apenas o Festival do Barco e Pesca, durante uma semana por ano, no mês de fevereiro. Há que se arrumar atividades para as outras 51 semanas do ano. O legado de muitas histórias épicas, ligadas à proximidade com a Argentina, as escaramuças de fronteira, tiroteios, mortes, contrabando de farinha, gasolina e pneus, o mitológico “Hotel dos Contrabandistas”, etc., tornam o Distrito um local ideal para formatar um roteiro de visitação turística, vindo pelos rios Ijuí e Uruguai, retornando por terra.
Qualquer projeto de atividade turística regional, deve, necessariamente, incluir esta região limítrofe com a Argentina e com o Paraguai bem próximo, onde o município de Porto Xavier, com seu porto internacional é o segundo no RS em circulação de mercadorias, sendo o portão de entrada oficial dos países do Mercosul nas Missões. (JWG).

Conhecendo nosso chão

Turismo Histórico, Cultural e Religioso

Vou chamar Tupã pra ouvir minha voz guarani / Tupã deus da campina, rei da tribo onde nasci / Tupã, vêm me ouvir...
Música Feitiço Índio - Os Muuripás (L. C. Barbosa Lessa), 1985.

Se alguém estiver na França, país europeu, rico e com grande movimentação turística, e de repente sentir fome, deverá fazer a solicitação em francês, sob pena de ficar em permanente jejum. Na Alemanha, uma questão de honra é não “inglesar” o “W”, que se pronuncia “vê” e jamais “dáblio”. Por quê isso? Porque eles preservam sua identidade cultural, através do idioma!
O tango é uma criação do rio da Prata, surgindo inicialmente nos anos de 1850-60 nos bairros pobres de Montserrat e San Telmo, em Buenos Aires, onde os bailes eram chamados de “tangos” e “tambos”, originando-se de uma mistura de ritmos onde inclusive figura a milonga. Duas das maiores expressões do tango foram Alfredo Le Pera, brasileiro e Carlos Gardel, francês, que formaram a maior dupla de “tangueros”. El dia que me quieras, Mi Buenos Aires querido...
A música é um encanto que une povos diferentes, na harmonia do som, na magia dos versos. Foi esta a primeira lição ministrada pelo padre Roque Gonzales de Santa Cruz ao vir para o Rio Grande do Sul, atravessando o rio Uruguai em canoa e encantando os índios guaranis com a melodia em seus primeiros contatos com o pioneiro colonizador de nossa terra vermelha.
A recuperação desta nossa história ancestral, valorizando seus primeiros moradores indígenas, é um objetivo que a Igaçaba vem cumprindo desde sua primeira manifestação. Não existem filhos sem pais. Por vezes, podemos esquecer de dizer que estamos aqui por que Tupã fecundou a terra vermelha...
Depois do idioma português, o tupi-guarani é a língua que mais nomeia lugares no Brasil. Apesar de não se aprender nas escolas, cerca de três mil palavras do tupi-guarani estão presentes no cotidiano do vocabulário brasileiro e, mais eruditamente, elas chegam às dez mil palavras.
Nhenhenhém (falar), a bibóca (casa de barro), cutucar a pereva (mexer na ferida), pirajú - peixe dourado, Inhacurutum - arroio da coruja, rio Uruguai - rio do caracol (uruguá-caracol;y-água), Pirapó - onde o peixe salta ((pira-peixe;pora-cheio, saltar), rio Ijuí - rio da rã (y-água;ju’í-rã), são alguns dos nomes que utilizamos diariamente. A própria palavra guarani (Guarã í) é um vocábulo etnográfico que designava um povo (nação), cujo território ia da região do pampa argentino aos vales do Mississipi nos Estados Unidos.
Em nossa região, para manter preservadas suas seculares raízes indígenas e missioneiras, o turismo deve ser feito por quem tem as Missões no Coração, e por quem é o Coração das Missões. Quando se menciona a Rota Missões, deve-se prestar tributo a um paraguaio que já fazia a integração de nuestra latinoamerica a 374 anos atrás, falando a mensagem divina na língua da terra, o idioma guarani.
Para se compreender a importância da conquista e evangelização do indígena da América do Sul, deve-se pesquisar e descobrir que pregar o catecismo católico na língua nativa, tal como fizeram os missionários em 1500 com os idiomas guarani, aimará e quécha, somente foi estendido à população branca do mundo todo após o Concílio Vaticano II, quase cinco séculos após...
Em face do internacionalismo representado pelo turismo, que é, junto com a telefonia e a informática, um dos três agentes mundiais da globalização, entendemos que uma proposta de turismo no século 21, não pode ficar restrita a poucos municípios, ela tem que envolver regiões inteiras em pacotes turísticos com identidades afins, tem que ser feita por quem fala a nossa língua, e por quem conhece a nossa história e cultura missioneira!
Estamos, com este manifesto, lançando o projeto da Igaçaba Turismo, uma agência de turismo, para divulgar o que temos de atração, para incrementar um turismo receptivo, que traga visitantes de outras regiões, para ampliarmos nossos laços com o mundo. Este o nosso objetivo, para o qual procuramos parceiros e empreendedores, dispostos a acreditar em Roque Gonzales e no nosso potencial regional. (JWG).

Roque Gonzales

Terra e Sangue das Missões*
Os trabalhos para demarcar as terras do que seria a futura cidade de Roque Gonzales, o Salto Pirapó e seus arredores, remontam ao ano de 1919, com a vinda do agrimensor Carlos Beppler.
Em 03/11/1922, é nomeado em São Luiz Gonzaga, pela prefeitura municipal, o Major Antônio Thedoro Cardoso para fazer a divulgação e vender lotes de terras da nova Colônia Municipal.
Em 1924, começava a vinda de moradores para a Colônia Salto Pirapó (o nome Pirapó significa: lugar de peixe, ou peixe que salta, no idioma guarani mbya, os antigos habitantes da região das Missões), que assim se chamava em virtude de uma notável queda d’água n rio Ijuíl, que formava cachoeiras, ideais para o funcionamento das turbinas de uma usina hidrelétrica, e que viria a ser o grande atrativo para a colonização. Ou seja, a construção da usina, iniciada em 1928.
Os primeiros colonizadores oficiais foram o Major Antônio Thedoro Cardoso e Júlio Schwengber Sobrinho, os quais passaram a trazer pessoas e a desenvolver uma terra fértil e rica em belezas naturais. A grande maioria dos imigrantes era descendente de alemães.
A primeira missa, foi celebrada por Monsenhor Wolski, onde hoje é a Praça Tiradentes, com a data de fundação do novo povoado sendo em 27/01/1927.
Roque Gonzales virou assim o 9o Distrito de São Luiz Gonzaga, sendo instalado em 25/10/1927 e se transformando em Vila na data de 31/03/1938.
No ano de 1954, Cerro Largo consegue sua emancipação e Roque Gonzales passa a ser o 2o Distrito daquele novo município.
Já no dia 08/08/1964, ocorre a primeira formação da Comissão Emancipacionista de Roque Gonzales, que é reformulada e concluída na data de 19/08/1964.
Para conseguir cumprir com as exigências da legislação vigente, foram incluídas as comunidades de Rincão Vermelho, que tivera seu início por volta do ano de 1896 e Vila Dona Otília, fundada em 1908.
O plebiscito foi realizado no dia 17/10/1965, tendo comparecido 1.443 eleitores, com o “sim” obtendo 73,8% dos votos.
No dia 07 de dezembro de 1965, portanto, o distrito de Roque Gonzales, juntamente com o apoio das comunidades de Rincão Vermelho e Vila Dona Otília, teve homologado sua emancipação político-administrativa, pela Lei 5.134.
Nascia o município chamado Roque Gonzales. O nome foi em homenagem ao jesuíta Roque Gonzales, o qual fora beatificado no ano de 1934, pelo Papa Pio XI.
O município foi instalado em 15 de maio de 1966.
O primeiro prefeito foi um interventor federal, administrando sem a existência de Câmara de Vereadores, acontecendo a primeira eleição para o legislativo e executivos municipais no ano de 1968.
Entretanto, na data de 22/07/1971, o município foi considerado Área de Segurança Nacional, por fazer parte da fronteira do país com a Argentina, sendo suprimida a eleição para prefeito que passou novamente a ser nomeado (mantendo-se a eleição popular dos vereadores) e só retornando a escolha do mandatário municipal através do voto popular no dia 15/11/1985.

NO PRINCIPIO - O Padre Roque Gonzales, que chegara ao Rio Grande do Sul através de São Nicolau, em 03/05/1626, fundou a Redução de Assunção do Ijuí, em 15/08/1628, celebrando ali a primeira Missa entre índios guarani mbya, nas futuras terras do município de Roque Gonzales.
Mais tarde, o Pe. Roque e o Pe. Afonso Rodrigues foram martirizados em Caaró, na data de 15/11/1628, por índios mandados pelo Cacique Nheçu, o qual habitava nas cercanias do Cerro do Inhacurutum, proximidades de Assunção do Ijuí, local em que também padeceu martírio o Pe. João de Castilho, em 17/11/1628.
Os três foram considerados pela Igreja Católica em Assunção do Paraguai, pelo Papa João Paulo II, no ano de 1988.
CASCATINHA - Os primeiros colonizadores ao chegarem nas proximidades do que seria o futuro povoado de Roque Gonzales, escolheram um lugar de parada, um local que tivesse água.
Como esse recanto todo ainda era mato, e os povoados do que seriam os futuros municípios ao redor já estavam formados, Roque Gonzales foi um dos últimos a serem constituídos, há mais de 80 anos, sendo escolhido este local com água para beber, para lavar roupas, para tomar banho: a Cascatinha.
Com nascentes no Bairro São José, o arroio faz sua trajetória, cruzando canalizado o acesso asfáltico da principal entrada e saída da cidade de Roque Gonzales, a Avenida Pirapó/ Rua João Del Castilho, indo formar a queda d’água da Cascatinha, na propriedade de Soni Kreuz. Até aí o arroio continua anônimo, sem nome e, mais adiante, ao tomar ares urbanos deságua no Lageado Delfino, indo até o rio Ijuí.
Historicamente, a Cascatinha é reconhecida como o primeiro contato dos colonizadores com a cidade de Roque Gonzales, sendo que em 1968, foi escolhido o nome do Centro de Tradições Gaúchas como CTG Sentinelas da Cascata, em homenagem ao local.

* O dístico “Terra e sangue das Missões”, é de autoria do escritor Nelson Hoffmann e foi tornado um dos emblemas oficiais do município pela Lei 805.

Por João Weber Griebeler – Jornal Igaçaba
(Também com informações dos livros:
a) Município de Roque Gonzales, Pedro Marque dos Santos, 1989;
b) A fascinante história de Roque Gonzales, Ângelo Felipe Ramos, 2001).