Por: João Weber Griebeler
Prosseguindo a série de matérias referentes a história do Salto Pirapó, recordadas pelo Sr. Aldino Spohr e outros moradores, hoje enfocaremos os fatos mais pitorescos e, aqueles mais marcantes para o imaginário popular, como as lendas que se formaram ao longo das gerações.
Começando do princípio, o primitivo Passo São João, o primeiro a existir, ficava a cerca de 150m por onde passará o canal da futura Usina, desembocando no Rio Ijuí. O Passo São João só adquire esta denominação a partir de sua localização definitiva, lá por 1970.
A história que existia da colonização do Salto Pirapó era restrita, de repente os primeiros moradores caíam do céu, por mirabolante obra do Altíssimo!
Na verdade, o Salto Pirapó já era conhecido e freqüentado muito antes que por aqui chegaram José Eichelberger e Jacob Alberto Spohr, a partir de 1924.
Bem antes disso, lenhadores e balseiros se locupletavam no abate das árvores nativas, tais como loro, cedro e cabriúva, ou seja, madeira de pouco peso, ideal para flutuar nas águas do Rio Ijuí.
As toras eram tombadas ribanceira abaixo, na direção de onde se localizava o primitivo passo, durante os meses de verão, para, nos meses de inverno, quando vinham as cheias do rio, serem trans-portadas para a maior cidade regional, a cidade de Uruguaiana, a qual perten-cíamos inclusive pela Diocese da Igreja Católica.
Estas lembranças foram repassadas para Aldino Spohr por certo Juca Modesto, que viveu naquela época antiga.
Os balseiros amontoavam as toras na barranca do Rio Ijuí, aguardando a época das cheias, no período de inverno, quando colocavam as mesmas na água, formando assim barcos rudimentares, que eram montados como pequenas balsas, reforçando sua navegabilidade por meio de taquaras amarradas com cipó aos troncos, construindo-se também toscas estruturas de capim a moda de habitações, para navegar protegidos das intempéries pelo rio. Navegava-se com a força da correnteza e a noite. Em épocas de chuva, encostava-se na margem para descansar de forma sossegada.
Tal meio de transporte das toras, demorava semanas e a volta, era feita a pé, trazendo-se a cavalo apenas os apetrechos mais necessários. Demorava-se cerca de um mês inteiro para fazer tal percurso e, obviamente, então as horas e os dias não contavam como hoje, pois se vivia mais lentamente.
O agrimensor oficial da demarcação de toda essa região foi Carlos Beppler, que era o chefe da equipe que se abrigava num galpão, a cerca de cem metros da cachoeira do Salto Pirapó. Este local acabou sendo a primeira moradia de Jose Frederico Eichelberger, o José Teimoso, quando aqui veio residir com a família, em 1924, sendo capataz de Julio Schwengbenger.
Cruzes - Havia também um pequeno cemitério, bem anterior à colonização do Salto, provavelmente datando de princípios do século 20, ou antes, ainda. Esta presença era atestada pela presença de duas cruzinhas de ferro, evidenciando ser um campo santo cristão.
Esta localização das cruzes acabou se tornando dificultosa devido a uma patrolagem por máquinas da prefeitura na área próxima ao rio, para a construção de um camping, lá por 1986. Tal local fica um pouco acima das comportas da velha usina, logo após se cruzar a cerca de arame farpado.
O burro branco - Por outro lado, onde tem cemitério, tem “enterros”, não de mortos, mas de tesouros, que soam fabu-losos nas cobiçosas imagi-nações das pessoas.
Uma das lendas mais antigas circulantes acerca deste tema, conta da existência de um tesouro, muito rico, escondido, tendo para zelar por sua proteção um burro branco, macho de estatura avantajada, de olhos fosforescentes e orelhas de meio metro de tamanho!
A descrição nos soa fantástica, porque, cerca de 90% dos filhotes nasci-dos da família dos jumentos são de mulas fêmeas, mais os olhos fosforescentes, as orelhas de meio metro e um considerável tamanho físico, levam a supor que tal bicho é do outro mundo!...
Um ser tão extraordinário assim certamente teria uma nobre missão a cumprir - ser o guardião e zelar pela guarda da caixa metálica -, escondida numa depressão mais profunda das águas do Rio Ijuí.
Esta caixa seria repleta de moedas e objetos de ouro dos tempos da riquíssima colonização espanhola e teria vindo parar por aqui em canoa, contrabandeada de um dos grandes centros urbanos da época, as cidades de Buenos Aires ou Assunção do Paraguai.
Para fins de ilustração, recordamos a lenda do Senhor do Sobrado, levantada por Sergio Venturini, sobre um nobre europeu abastado, refugiado nas cercanias da Linha Sobrado, daí o nome desta localidade ser tão original dentre as diversas denominações da região.
Lagoa - Também há especulações sobre a existência de uma lagoa, que poderia ser a depositária desta relíquia, localizada do outro lado do rio, em Dezesseis de Novembro. Até já se pensou em esvaziar a referida lagoa para ver seu interior!
Na década de 1970, ocorreu inclusive que um cidadão mais ilustrado e de forma veemente, oriundo de município próximo, ter vindo procurar o tal tesouro, com base em dados, mapa e informações coerentes. Se teria encontrado algo, quem o saberá?
O Sr. Aldino Spohr recorda que antes tempos, era comum se encontrar vestígios de escavações realizadas durante a noite por visitantes furtivos nas terras do Salto Pirapó, a procura destes tesouros. Em particular, esta remoção de pedras se dava acompanhando a depressão que vai formar o caimento e canal por onde descerá o Rio Ijuí para movimentar as turbinas da Usina Passo São João.
Diversas pessoas, os tais “procuradores de ouro” saiam de casa ao entardecer, munidos de um aparelho Mineoro, só retornando no outro dia, cansadas e sujas de terra pelas escavações realizadas na febril noitada.
Há toda uma sigilosa articulação destes buscadores, formando quase uma confraria. Alguém tem que de ser de muita confiança para gozar de um convite para uma caçada noturna de tesouros!
Pois o mito de existir tesouros no Salto Pirapó se recicla e vai despertando outros sonhadores. Comentários dão conta que existe uma área tabu para os trabalhadores da Construtora CVP. Provavelmente aonde se localizam vestígios indígenas, colocados sob proteção pelas arqueó-logas. Mas vai dizer para alguém que num lugar não se pode mexer! Com certeza ali tem ouro, e muito!
Nos próximos anos, ainda veremos excursões varando madrugadas frias e enluaradas, em direção ao Salto Pirapó, na pesquisa destas riquezas secretas, voltando ao amanhecer, cansados e cobertos de poeira, como tivessem sido perseguidos por um fantasma!...
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